A parábola da mesa

Recentemente, lá em casa, houve a troca da mesa de jantar. A anterior tinha quinas e era leve: se alguém se apoiasse no tampo, mesmo que levemente, ela levantava. Com um bebê de três meses que logo estará subindo nas coisas e, consequentemente, correndo o risco de subir no móvel, já estávamos calculando as possibilidades de acidentes. Resultado: vamos trocá-la!

Primeiro passo: decidimos vendê-la. Anunciamos em grupos do Facebook, avisei algumas pessoas. Em poucos dias, ela se foi.

Contratamos um homem responsável pelo transporte. Decidi ajudá-lo a desmontá-la e a carregá-la, juntamente com as cadeiras. Foi rápido, embora tenha dado um trabalhinho. Moro no quinto andar. São setenta e quatro degraus que precisam ser subidos e descidos. Houve algumas viagens, não lembro ao certo quantas. Ao final: problema resolvido. Bye-bye, mesa.

Dinheiro na mão, fomos a algumas lojas. Detalhe: sair com bebê dá um trabalhinho. Quem é pai ou mãe sabe. Arrumar a bolsa, vestir o bebê, dar de mamar antes de sair para acalmar a criança. Finalmente, Mateuzinho pronto. Bora!

Fomos à primeira loja. Nenhuma das mesas nos encantou. Partimos para a segunda. Gostamos de uma. Ok, vamos pensar e dar o retorno.

Entrei em contato via WhatsApp alguns dias depois. Tentei negociar. Pedimos desconto. A outra parte foi um pouco inflexível, pensamos. Vamos olhar em mais um lugar.

Arruma a bolsa, arruma o bebê, saímos de casa, achamos um lugar para estacionar, andamos com o nenê até a loja, sol quente de rachar. Chegamos, olhamos, e achamos o mesmo modelo de mesa da última loja. Tentativas de negociação: desconto, entrada, valores, parcelamento, papo vai, papo vem, negócio fechado. Pagamento ok!

— Até quarta-feira chega (era um sábado). Ligamos antes.

— OK!

Deu o horário de almoço na quarta. Nada. Ninguém ligou. Tentei telefonar, mas houve problema na linha telefônica. Resolvi ir até a loja. Conversei com a moça responsável. Tentaram entrar em contato com o motorista do caminhão carregado com o móvel. Fiquei lá esperando. “Consegui falar. Entregam hoje”. “Beleza então. Obrigado”.

Após o trabalho, cheguei em casa e a bonitona estava lá. Desmontada, numa caixa de papelão, junto com as cadeiras. Quatro caixas no total.

Agora falta o montador vir. Vão ligar.

Ligaram. Um dia depois. Pela manhã ele chega. Ok então.

Chegou, montou e foi embora. Sujeito educado e bom de papo. Gente fina. Agora ela estava montadinha e bonitinha, mas sobraram as caixas de papelão. Resultado: tenho que descer com elas para o pessoal da coleta levar. Passam hoje.

Fiz quatro viagens. Subir e descer setenta e quatro degraus quatro vezes. Total: duzentos e noventa e seis degraus que foram descidos e subidos, respectivamente. Suei. Cansei. Tudo no lugar. Trabalho concluído. Só que não.

Ela veio empoeirada, principalmente os pés. Precisou ser limpa. E foi.

Agora, sim. Missão completa.

Expliquei desde o começo porque o que aconteceu me fez pensar que com o desejo é exatamente assim. Primeiramente, é necessário desejar. Ok, estou desejando. Não basta apenas visualizar e pedir ao universo ou ao supremo criador para atrair e receber o que se quer. É fundamental se colocar em movimento. Dá uma trabalheira do caramba. Antes, durante e depois. No começo, parece muito simples, mas durante o percurso, percebemos que é necessária uma dose de esforço, paciência, prudência e tranquilidade. Os desejos exigem essas coisas para que possam virar realidade.

É assim nos relacionamentos, nos negócios, nos estudos e em outras áreas da vida. Tem gente que não está a fim de “pagar o preço”, de se movimentar. Prefere se queixar: “O mundo não me deu todas as oportunidades”, “É fácil para fulano”.

Portanto, lembre-se da mesa. O desejo exigirá esforço? Nem todos, é claro - depende do que se deseja -, mas para grande parte deles, sim. No entanto, ao final, o resultado é muito bom. A mesa combinou lindamente lá em casa. Seu desejo, com toda certeza, também combinará lindamente com você.