Será que a Psicanálise deixa a pessoa egoísta?

É importante entendermos o que significa, afinal, ser uma pessoa egoísta. No site https://www.significados.com.br/egoismo/ consegui a definição de egoísmo para termos uma noção, curta que seja, do que se trata.

“Egoísmo é um substantivo masculino que nomeia um amor próprio excessivo, que leva um indivíduo a olhar só para as suas opiniões, interesses e necessidades, e que despreza as necessidades alheias.

Egoísmo é um exclusivismo que faz o indivíduo se referir tudo a si próprio. É um orgulho, uma presunção.

A pessoa que trata só de seus interesses, que carrega consigo os sentimentos do egoísmo é adjetivada de egoísta.”

Em primeiro lugar, amor próprio excessivo é narcisismo, não egoísmo. Narcisismo é o investimento libidinal, de energia em si mesmo, no próprio eu. Na verdade, todos nós somos narcisistas, pois investimos em nós mesmos. No entanto, esse investimento pode se tornar patológico, que é o caso do “amor próprio excessivo”. Todo excesso faz mal. Equilíbrio, minha gente.

Em segundo lugar, o egoísta foca em si mesmo e despreza as necessidades alheias, nos termos da definição acima. A análise pessoal não visa que o sujeito despreze a necessidade, seja ela qual for, dos demais, mas que priorize a sua.

Em terceiro lugar, não é sobre referir tudo a si próprio ou tratar apenas dos próprios interesses, até mesmo porque, o sujeito em análise é convidado a fazer laços amorosos (sociais) com outras pessoas, ou seja, colocar suas fichas na vida, nas amizades, em negócios, na família, a fim de diminuir seu narcisismo e investimento em si mesmo. Sendo assim, em certa medida, a psicanálise vai pelo caminho contrário, para que o sujeito saia do casulo, da redoma de si mesmo e invista na existência.

O que a psicanálise faz é convidar a pessoa a examinar seu próprio desejo, de forma intensa e profunda. Muitas das vezes isso desagrada outros, pois o sujeito começa a se comportar e a se posicionar de maneira diferente, não agradando e correspondendo às expectativas e ao imaginário do outro e isso incomoda. Trata-se de egoísmo? Não. É sobre olhar pra si, cuidar de si, do próprio desejo, afinal de contas, ninguém pode fazer isso pelo outro. E isso não prejudica absolutamente ninguém. Pode até não favorecer, mas prejudicar não. A psicanálise possui uma ética própria, pautada no desejo, e isso não implica violar o que, no Direito, chamamos de “dignidade da pessoa humana” de ninguém. É importante separar as coisas, o joio do trigo. Aqui podemos. E devemos! Talvez essa ideia que muitas pessoas tem que a psicanálise deixa a pessoa egoísta, esteja atrelada ao fato de que não estamos acostumados a nos olhar, a enxergar-nos e nos priorizar. A cultura brasileira tem disso. Somos conhecidos por sermos solidários com o outro que passa necessidade. Só que não é muito bem assim, no sentido de que olhar para o próprio desejo faz com que se seja uma pessoa menos benevolente, se podemos escrever assim. É importante fazer esta diferenciação.

Por outro lado, se a pessoa é promovida, troca de carro, compra uma casa, muitas das vezes é chamada de ladra, que está traficando ou coisa parecida. É impressionante, olhar para o próprio desejo, de forma honesta, trabalhar, estudar e empreender acaba sendo sinônimo, para muitos, de algo negativo. Às vezes é pura inveja mesmo. Como muitos não dão conta, a escolha é dizer: “puxa saco”, a vida não me deu todas essas oportunidades”, “está roubando”, “está trapaceando” e por aí vai.

Por fim, fato é que quem faz análise pessoal pode ser tachado de egoísta, sim. Mas não se trata disso. Trata de olhar para si e dizer: primeiro eu, depois o próximo. Preciso cuidar do meu desejo antes de mais nada. Faz parte da minha felicidade, do meu bem-estar, da minha saúde mental. Meu desejo vem em primeiro lugar pois ele é só meu e não tem nada a ver com o outro, nem irá prejudicá-lo.

Ok, resumi anos de análise pessoal aqui, absorver estas coisas demandam tempo e elaboração, mas, meu irmão, minha irmã, no final trata-se disso. Vamos direto ao ponto?