Freud explica?
- Daniel Correia
- 4 de set. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de mar. de 2024
Uma frase, do psicanalista Leandro Santos, me chamou a atenção: Freud não explica, ele implica.
É comum ouvirmos que Freud explica. E ele tem o esforço de construir, com fundamentos, toda a sua teoria. No entanto, ao ler a sua obra, alguns aspectos ficam claros.
Primeiro, seu grande esforço não é explicar.
Mas como assim?
Vemos que ele tenta apontar como determinadas coisas não são em vez de explicar – de modo definitivo e fechado - como são. É mais ou menos assim: “olha, as coisas não podem ser deste jeito, por isso e aquilo, e talvez possam ser do jeito tal”.
Segundo, vários aspectos da sua teoria ainda estavam em aberto e sendo construídos. Várias vezes Freud vai e volta atrás em sua opinião, deixando bem claro isso. E está tudo bem. Ciência não é dogma.
Terceiro, na psicanálise os fatos narrados não de são suma importância e sim como são narrados. É a construção fantasiosa sobre o que se narra que importa e como o desejo está escamoteado no discurso. Neste sentido, o analista vai implicar o sujeito na fala, na sua posição. Não vai ter o esforço de dar explicações de causa e efeito ou dar sentidos, aliás, o analista é um sujeito suposto saber. É um saber que não se sabe. Não é aquela pessoa detentora de um supremo saber que sabe tudo o que passa pela cabeça do sujeito. É alguém tecnicamente capaz de implicar a pessoa, a fim dela conseguir se escutar, mudar de posição e se reconciliar com seu desejo.
Por fim, importa mesmo é implicar em vez de explicar. Dar explicações não resolve. No entanto, implicar, para tirar o sujeito da zona de conforto a fim de que se desloque do seu lugar, é o que pode fazer a diferença. Não precisamos de muitas explicações, precisamos de implicações.

Comments