Quando o choro dura mais de uma noite.
- Daniel Correia
- 3 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
No livro de Salmos, capítulo trinta, versículo cinco, está escrito: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. A Bíblia não pode ser interpretada literalmente, pelo menos na maioria de seus escritos. Há choros que duram mais de uma noite. São dias e noites de prantos e lágrimas. Quem nunca ouviu “é só uma fase, vai passar”? Para quem vive, parece que não.
Crises sempre chegam. Sempre vão. “O problema é irem”, pensa quem atravessa a tormenta. No entanto, no que tange a elas, existem tipos diferentes.
O primeiro são as inevitáveis. A morte, por exemplo. Não há muito o que se possa fazer. O luto precisa ser vivido, experienciado. O tempo e a escuta de um profissional podem ajudar no processo.
O segundo tipo são as crises para as quais existem recursos, saídas e ferramentas. O desemprego, por exemplo. É uma situação difícil no começo? Sim. Assusta? Claro! No entanto, é possível contornar a situação, distribuindo currículos, investindo naquele projeto guardado na gaveta, na carreira, etc. Há quem diga: “Ainda bem que fiquei desempregado. Foi a oportunidade que eu precisava para fazer dar certo aquele meu plano”.
O terceiro tipo são aquelas situações que nós mesmos provocamos, mesmo que não nos demos conta disso. Diante disso, a principal pergunta a ser feita, com a ajuda de um profissional analista/terapeuta, é: “O que me levou a fazer este movimento que ocasionou este resultado? Quais motivos inconscientes? Por que me comportei desta forma, mesmo sendo prejudicial para mim?”.
Diante de tais hipóteses, o indivíduo tende a se indagar: “O que faço da minha vida agora?”.
Uma vez, ouvi num vídeo do Sílvio Santos a seguinte frase: “Onde fecha uma porta, Deus abre uma janela”. E sinceramente, é no que acredito, principalmente no contexto analítico. Se não for um caso de morte ou algo tão grave quanto, que requer a escuta acolhedora de um profissional para ajudar (e muito) no momento de dor, não há queixa que justifique não agir perante o problema, buscando possíveis soluções. Até mesmo porque reclamar não resolve. Sendo objetivo, cru e direto ao ponto.
Detalhe: é óbvio que existem outras perspectivas que impactam diretamente a subjetividade do sujeito, como o contexto social, cultural, ambiental, econômico, anatômico, fisiológico, genético, etc. Não se trata de negligenciá-las. No entanto, no percurso da análise pessoal, a pergunta que importa se resume na famosa frase de Freud: “Qual a sua responsabilidade pela desordem na qual você se queixa?”. Se o indivíduo não se posiciona ativamente, por mais que os contextos mencionados anteriormente lhe sejam favoráveis, ele não conseguirá prosseguir na vida com saúde mental. Esse é o ponto.
Por isso, se o choro dura mais de uma noite, procure ajuda. Pode ser uma tempestade que é normal de atravessar, todos atravessarão um dia, ou pode ser um sereno que o sujeito, em virtude de sua subjetividade, vê, percebe e interpreta como tempestade. Seja como for, a ajuda qualificada é recomendável e necessária.
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