Saúde mental e saúde física
- Daniel Correia
- 2 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de mar. de 2024
Há inúmeras pesquisas que apontam, com clareza, a relação entre a saúde mental e saúde física. O corpo chega, até mesmo, a psicossomatizar em determinados casos. Em outras palavras, ele fala.
O excesso de estresse, ansiedade, angústia, tristeza provocam reações físicas: adoecimentos gastrointestinais, mudança na pressão arterial, doenças relacionadas à pele, dores de cabeça, enxaquecas, problemas cardíacos, mudança no peso, enfim. A lista é enorme. Há estudos que indicam, inclusive, uma possível relação entre a saúde mental prejudicada e o surgimento de cânceres.
Atendendo e escutando os relatos de indivíduos que narram doenças e suas vidas, neste trabalho de investigação, percebo que, de certa forma, determinadas psicossomatizações chegam a ser até mesmo óbvias. É claro que o corpo uma hora ou outra falará! A alma está gritando. O ser humano tem um limite de sofrimento que suporta. Diante do exposto, faço a seguinte indagação (ousada): a saúde mental prejudicada ao extremo pode chegar ao nível de ser tão adoecedora quanto o uso constante do cigarro?
Acredito que sim. Dependendo, até mais. Lógico que cada caso é um caso e estamos diante de uma analogia e de uma suposição. No entanto, é o que visualizo.
Detalhe importante. É necessário fazer uma pontuação e uma diferenciação. Existem aqueles pensamentos intrusivos e repetitivos que invadem a mente, e algumas correntes psicoterapêuticas utilizam técnicas para evitá-los ou dispersá-los. A psicanálise faz o caminho inverso, convida a falar sobre e colocar para fora a fim de investigar o que há por detrás. É imprescindível tratar o que passa na mente e não tentar evitar que determinadas coisas apareçam. O que não se pode é levar uma vida sem tratamento a ponto do sujeito começar a adoecer em virtude da qualidade daquilo que pensa e sente, com processos conscientes e inconscientes envolvidos.
Sem sombras de dúvidas, de um certo tempo para cá, há maior conscientização das pessoas no que tange ao tema. No entanto, até mesmo por ser uma condição inerente ao ser humano, elas resistem ao tratamento psicoterapêutico. Uma pessoa procura um analista quando percebe que não tem mais como prosseguir sem ajuda. Há aquelas que começam o percurso, mas param quando ficam cara a cara com seu desejo e não ousam dar o próximo passo, quando percebem que o grande carrasco de sua vida não são os outros, mas elas próprias, quando percebem que a queixa começa a ficar sem sentido e vazia com a implicação e pontuação do analista, quando as fantasias infantis começam a cair por terra e não querem se agarrar ao real da vida, quando não almejam abrir mão dos ganhos secundários que o adoecimento proporciona. Pessoas têm dó, são comovidas e dão atenção quando alguém próximo se adoenta. Enquanto isso, a sofridão e o adoecimento se instalam na alma e no corpo do indivíduo.
Por tudo exposto, fica uma questão: como anda a qualidade de seus pensamentos e sua saúde mental? Esta pergunta é necessária, pois é possível fazer musculação, crossfit, tomar psicofármacos, meditar, fazer yoga, ser vegano, vegetariano etc. (diga-se de passagem, sou a favor de tudo o que pode favorecer e contribuir com a saúde mental) e ser mentalmente enfermo. Talvez, o excesso das práticas acima mencionadas, de forma exagerada, desmedida, exorbitante, o que vem sendo algo cada vez mais comum, já seja um sinal de que algo não vai bem. Não é de grande valia ser "fit" se psicologicamente não se está saudável.
Por fim, para além das campanhas setembro amarelo ou janeiro branco, se o cuidado com a mente não for diário, pouco adianta. Aliás, o próprio fato da necessidade de se criar tais campanhas já reforça que estamos diante de sérios problemas. Uma análise pessoal, geralmente, não é à toa que acontece uma vez por semana ou duas ou três vezes (sendo até mesmo desejável). Dentre outras coisas (é claro), respeitando que cada vertente psicoterapêutica tem uma forma de conduzir o trabalho, isso aponta que precisamos dedicar tempo razoável para cuidar de nós mesmos, da nossa condição psicológica. Caso contrário, o adoecimento provocará sofrimento, os vínculos sociais ficarão prejudicados, o trabalho e o sustento também, dentre diversos outros efeitos negativos e prejudiciais na vida.
Que 2024 seja um ano saudável! Sobretudo, mentalmente.
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